A música (do grego μουσική τέχνη - musiké
téchne, a arte das musas) é uma forma de arte que se constitui basicamente em
combinar sons e silêncio seguindo uma pré-organização ao longo do tempo.
É considerada por diversos autores como uma
prática cultural e humana. Atualmente não se conhece nenhuma civilização ou
agrupamento que não possua manifestações musicais próprias. Embora nem sempre
seja feita com esse objetivo, a música pode ser considerada como uma forma de
arte, considerada por muitos como sua principal função.
A criação, a performance, o significado e até
mesmo a definição de música variam de acordo com a cultura e o contexto social.
A música vai desde composições fortemente organizadas (e a sua recriação na
performance), música improvisada até formas aleatórias. A música pode ser
dividida em géneros e subgéneros, contudo as linhas divisórias e as relações
entre géneros musicais são muitas vezes subtis, algumas vezes abertas à
interpretação individual e ocasionalmente controversas. Dentro das
"artes", a música pode ser classificada como uma arte de
representação, uma arte sublime, uma arte de espetáculo.
Para indivíduos de muitas culturas, a música
está extremamente ligada à sua vida. A música expandiu-se ao longo dos anos, e
atualmente se encontra em diversas utilidades não só como arte, mas também como
a militar, educacional ou terapêutica (musicoterapia). Além disso, tem presença
central em diversas atividades coletivas, como os rituais religiosos, festas e funerais.
Há evidências de que a música é conhecida e
praticada desde a pré-história. Provavelmente a observação dos sons da natureza
tenha despertado no homem, através do sentido auditivo, a necessidade ou
vontade de uma atividade que se baseasse na organização de sons. Embora nenhum
critério científico permita estabelecer seu desenvolvimento de forma precisa, a
história da música confunde-se, com a própria história do desenvolvimento da
inteligência e da cultura humana.
Definir a música não é tarefa fácil porque
apesar de ser intuitivamente conhecida por qualquer pessoa, é difícil encontrar
um conceito que abarque todos os significados dessa prática. Mais do que
qualquer outra manifestação humana, a música contém e manipula o som e organiza-o
no tempo. Talvez por essa razão ela esteja sempre fugindo de qualquer
definição, pois ao procurá-la, a música já se modificou, já evoluiu. E esse
jogo do tempo é simultaneamente físico e emocional. Como "arte do efémero",
a música não pode ser completamente conhecida e por isso é tão difícil
enquadrá-la num conceito simples.
A música também pode ser definida como uma
forma linguagem que se serve da voz, dos instrumentos musicais e de outros
artifícios, para expressar algo a alguém.
Um dos poucos consensos é que ela consiste numa
combinação de sons e de silêncios, numa sequência simultânea ou em sequências
sucessivas e simultâneas que se desenvolvem ao longo do tempo. Neste sentido,
engloba toda combinação de elementos sonoros destinados a serem percebidos pela
audição. Isso inclui variações nas características do som (altura, duração,
intensidade e timbre) que podem ocorrer sequencialmente (ritmo e melodia) ou
simultaneamente (harmonia). Ritmo, melodia e harmonia são entendidos aqui
apenas no seu sentido de organização temporal, pois a música pode conter,
propositadamente, harmonias ruidosas (que contêm ruídos ou sons externos ao
tradicional/convencional) e arritmias (ausência de ritmo formal ou desvios
rítmicos).
Mesmo os adeptos da música aleatória,
responsáveis pela mais recente desconstrução e reformulação da prática musical,
reconhecem que a música se inspira sempre numa "matéria sonora",
cujos dados perceptíveis podem ser reagrupados para construir uma "matéria
musical", que obedece a um objetivo de representação, próprio do
compositor e mediado pela técnica. Em qualquer forma de perceção, os estímulos
vindos dos órgãos dos sentidos precisam ser interpretados pela pessoa que os
recebe. Assim também ocorre com a perceção musical, que se dá principalmente
pelo sentido da audição. O ouvinte não pode alcançar a totalidade dos objetivos
do compositor. Por isso reinterpreta o "material musical" de acordo
com seus próprios critérios, que envolvem aquilo que ele conhece, a sua cultura
e o seu estado emocional.
Da diversidade de interpretações e também das
diferentes funções em que a música pode ser utilizada se conclui que a música
não pode ter uma só definição precisa, que abarque todos os seus usos e géneros.
Todavia, é possível apresentar algumas definições e conceitos que fundamentam
uma "história da música" em perpétua evolução, tanto no domínio do
popular, do tradicional, do folclórico ou do erudito.
O campo das definições possíveis é na verdade
muito grande. Há definições de vários músicos (como Mozart, Beethoveen,
Schönberg, Stravinsky, Varèse, Gould, Jean Guillou, Boulez, Berio e
Harnoncourt), bem como de musicólogos como Carl Dalhaus, Jean Molino,
Jean-Jacques Nattiez, Célestin Deliège, entre outros. Entretanto, quer sejam
formuladas por músicos, musicólogos ou outras pessoas, elas dividem-se em duas
grandes classes: uma abordagem intrínseca, imanente e naturalista, contra uma
outra que a considera antes de tudo uma arte dos sons e se concentra na sua
utilização e perceção.
A abordagem naturalista
De acordo com a primeira abordagem, a música
existe antes de ser ouvida; ela pode mesmo ter uma existência autónoma na
natureza e pela natureza. Os adeptos desse conceito afirmam que, em si mesma, a
música não constitui arte, mas criá-la e expressá-la sim. Enquanto ouvir música
possa ser um lazer e aprendê-la e entendê-la seja fruto da disciplina, a música
em si é um fenómeno natural e universal. A teoria da ressonância natural de
Mersenne e Rameau vai neste sentido, pois ao afirmar a natureza matemática das
relações harmónicas e a sua influência na perceção auditiva da consonância e
dissonância, ela estabelece a preponderância do natural sobre a prática formal.
Consideram ainda que, por ser um fenómeno natural e intuitivo, os seres humanos
podem executar e ouvir a música virtualmente nas suas mentes mesmo sem a
aprender ou compreender. Compor, improvisar e executar são formas de arte que
utilizam o fenómeno “música”.
Sob esse ponto de vista, não há a necessidade
de comunicação ou mesmo da percepção para que haja música. Ela decorre de
interações físicas e prescinde do humano.
Para um outro grupo, a música não pode
funcionar a não ser que seja percebida. Não há, portanto, música se não houver
uma obra musical que estabelece um diálogo entre o compositor e o ouvinte. Este
diálogo funciona por intermédio de um gesto musical formante (dado pela
notação) ou formalizado (por meio da interpretação). Neste grupo há quem defina
música como sendo "a arte de manifestar os afetos da alma, através do
som" (Bona). Esta expressão informa as seguintes características: 1)
música é arte: manifestação estética, mas com especial intenção a uma mensagem
emocional; 2) música é manifestação, isto é, meio de comunicação, uma das
formas de linguagem a ser considerada, uma forma de transmitir e rececionar uma
certa mensagem, entre indivíduos considerados, ou entre a emoção e os sentidos
do próprio indivíduo que entoa uma música; 3) utiliza-se do som, é a ideia de
que o som, ainda que sem o silêncio pode produzir música, o silêncio
individualmente considerado não produz música.
Para os adeptos dessa abordagem, a música só
existe como manifestação humana. É atividade artística por excelência e
possibilita ao compositor ou executante compartilhar suas emoções e
sentimentos. Sob essa ótica, a música não pode ser um fenómeno natural, pois
decorre de um desejo humano de modificar o mundo, de torná-lo diferente do
estado natural. Em cada ponta dessa cadeia, há o ser humano (Homem). A música é
sempre concebida e recebida por um ser humano. Neste caso, a definição da
música, como em todas as artes, passa também pela definição de uma certa forma
de comunicação entre os seres humanos. Como não pode haver diálogo ou
comunicação sem troca de signos (sinais), para essa vertente a música é um fenómeno
semiótico.
Definição negativa
Uma vez que é difícil obter um conceito sobre
o que é a música, alguns tendem a defini-la pelo que não é:
A música não é uma linguagem normal. A música
não é capaz de significar da mesma forma que as línguas comuns. Ela não é um
discurso verbal, nem uma língua, nem uma linguagem no sentido da linguística (ou
seja, uma dupla articulação signo/significado), mas sim uma linguagem peculiar,
cujos modos de articulação signo musical/significado musical vêm sendo estudados
pela Semiótica da Música.
A música não é totalizante. Ela não tem o
mesmo sentido para todos que a ouvem. Cada indivíduo usa a sua própria
emotividade, sua imaginação, suas lembranças e suas raízes culturais para dar a
ela um sentido que lhe pareça apropriado. Podemos afirmar que certos aspectos
da música têm efeitos semelhantes em populações muito diferentes (por exemplo,
a aceleração do ritmo pode ser interpretada frequentemente como manifestação de
alegria), mas todos os detalhes, todas as subtilezas de uma obra ou de uma
improvisação não são sempre interpretadas ou sentidas de maneira semelhante por
pessoas de classes sociais ou de culturas diferentes.
A música não é sua representação gráfica. Uma
partitura é um meio eficiente de representar a maneira esperada da execução de
uma composição, mas ela só se torna música quando executada, ouvida ou
percebida. A partitura pode ter méritos gráficos ou estéticos independentes da
execução, mas não é, por si só, música.
Definição social
Música na sociedade
Por trás da multiplicidade de definições, encontra-se
um verdadeiro fato social, que coloca em jogo tanto os critérios históricos,
quanto os geográficos. A música passa tanto pelos símbolos de sua escritura
(notação musical), como pelos sentidos que são atribuídos a seu valor afetivo
ou emocional. É por isso que, no ocidente, nunca parou de se estender o fosso
entre as músicas do ouvido (próximas da terra e do folclore e dotadas de uma
certa espiritualidade) e as músicas do olho (marcadas pela escritura, pelo
discurso). Os nossos valores ocidentais privilegiam a autenticidade autoral e
procuram inscrever a música dentro de uma história que a liga, através da
escrita, à memória de um passado idealizado. As músicas não ocidentais, como a
africana apelam mais ao imaginário, ao mito, à magia e fazem a ligação entre a
potencialidade espiritual e corporal. O ouvinte desta música, bem como o da
música folclórica ou popular ocidental participa diretamente da expressão do
que ouve, através da dança ou do canto grupal, enquanto que um ouvinte de um
concerto na tradição erudita assume uma atitude contemplativa que quase impede
sua participação corporal, como se só a sua mente estivesse presente ao
concerto. O desenvolvimento da notação musical e a constituição artificial do
sistema de temperamentos consolidou na música, o dualismo corpo-mente típico do
racionalismo cartesiano. E de tal forma esse movimento se fortaleceu que mesmo
a música popular ocidental, ainda que menos dualista, se rendeu à sistematização,
na qual se mantém até hoje.
Música: um fenómeno social
As práticas musicais não podem ser dissociadas
do contexto cultural. Cada cultura possui seus próprios tipos de música
totalmente diferentes em seus estilos, abordagens e concepções do que é a
música e do papel que ela deve exercer na sociedade. Entre as diferenças estão:
a maior propensão ao humano ou ao sagrado; a música funcional em oposição à
música como arte; a concepção teatral do Concerto contra a participação festiva
da música folclórica e muitas outras.
Falar da música de um ou outro grupo social,
de uma região do globo ou de uma época, faz referência a um tipo específico de
música que pode agrupar elementos totalmente diferentes (música tradicional,
erudita, popular ou experimental). Esta diversidade estabelece um compromisso
entre o músico (compositor ou intérprete) e o público que deve adaptar sua
escuta a uma cultura que ele descobre, ao mesmo tempo que percebe a obra
musical.
Desde o início do século XX, alguns
musicólogos estabeleceram uma "antropologia musical", que tende a
provar que, mesmo se alguém tem um certo prazer ao ouvir uma determinada obra,
não pode vivê-la da mesma forma que os membros das etnias aos quais elas se
destinam. Nos círculos académicos, o termo original para estudos da música
genérica foi "musicologia comparativa", que foi renomeada em meados
do século XX para "etnomusicologia", que se apresentou, ainda assim,
como uma definição insatisfatória.
Para ilustrar esse problema cultural da
representação das obras musicais pelo ouvinte, o musicólogo Jean-Jacques
Nattiez (Fondements d’une sémiologie de la musique, 1976) cita uma história
relatada por Roman Jakobson em uma conferência de G. Becking, linguista e
musicólogo, pronunciada em 1932 no Círculo Línguístico de Praga:
Um indígena africano toca uma melodia na sua
flauta de bambu. O músico europeu terá muito trabalho para imitar fielmente a
melodia exótica, mas quando ele consegue enfim determinar as alturas dos sons,
ele está certo de ter reproduzido fielmente a peça de música africana. Mas o
indígena não está de acordo, pois o europeu não prestou atenção suficiente ao
timbre dos sons. Então o indígena toca a mesma ária noutra flauta. O europeu
pensa que se trata de uma outra melodia, porque as alturas dos sons mudaram completamente
em razão da construção do outro instrumento, mas o indígena jura que é a mesma
ária. A diferença provém de que o mais importante para o indígena é o timbre,
enquanto que para o europeu é a altura do som. O importante em música não é o
dado natural, não são os sons tais como são realizados, mas como são
intencionados. O indígena e o europeu ouvem o mesmo som, mas ele tem um valor
totalmente diferente para cada um, porque as conceções derivam de dois sistemas
musicais inteiramente diferentes; o som em música funciona como elemento de um
sistema. As realizações podem ser múltiplas, o acústico pode determiná-las exatamente,
mas o essencial em música é que a peça possa ser reconhecida como idêntica.
História da música
A história da música é o estudo das origens e
evolução da música ao longo do tempo. Como disciplina histórica insere-se na
história da arte e no estudo da evolução cultural dos povos. Como disciplina
musical, normalmente é uma divisão da musicologia e da teoria musical. O seu
estudo, como qualquer área da história, é trabalho dos historiadores, porém
também é frequentemente realizado pelos musicólogos.
Este termo está popularmente associado à
história da música erudita ocidental e frequentemente afirma-se que a história
da música se origina na música da Grécia Antiga e se desenvolve através de
movimentos artísticos associados às grandes eras artísticas de tradição
europeia (como a era medieval, renascimento, barroco, classicismo, etc.). Este
conceito, no entanto é equivocado, pois essa é apenas a história da música no
ocidente. A disciplina, no entanto, estuda o desenvolvimento da música em todas
as épocas e civilizações, pois a música é um fenómeno que perpassa toda a
humanidade, em todo o globo, desde a pré-história.
Em 1957 Marius Schneider escreveu: “Até poucas
décadas atrás o termo ‘história da música’ significava meramente a história da
música erudita europeia. Foi apenas gradualmente que o escopo da música foi
estendido para incluir a fundação indispensável da música não europeia e finalmente
da música pré-histórica."
Há, portanto, tantas histórias da música
quanto há culturas no mundo e todas as suas vertentes têm desdobramentos e
subdivisões. Podemos assim falar da história da música do ocidente, mas também
podemos desdobrá-la na história da música erudita do ocidente, história da
música popular do ocidente, história da música do Brasil, História do samba,
história do fado e assim sucessivamente.
Teoria musical é o nome que é dado a qualquer
sistema destinado a analisar, compreender e se comunicar a respeito da música.
Assim como em qualquer área do conhecimento, a teoria musical possui várias
escolas, que podem possuir conceitos divergentes. A sua própria divisão da
teoria em áreas de estudo não é consensual, mas de forma geral, qualquer escola
possui ao menos: análise musical, que estuda os elementos do som e estruturas
musicais e também as formas musicais; estética musical, que inclui a divisão da
música em géneros e a crítica musical; notação musical.
Análise musical
Apesar de toda a discussão já apresentada, a
música quando composta e executada deliberadamente é considerada arte por
qualquer das fações. E como arte, é criação, representação e comunicação. Para
obter essas finalidades, deve obedecer a um método de composição, que pode
variar desde o mais simples (a pura sorte na música aleatória), até aos mais
complexos. Pode ser composta e escrita para permitir a execução idêntica em
várias ocasiões, ou ser improvisada e ter uma existência efémera. A música dos
pigmeus do Gabão, o Rock and roll, o Jazz, a música sinfónica, cada composição
ou execução obedece a uma estética própria, mas todas cumprem os objetivos
artísticos: criar o desconhecido a partir de elementos conhecidos; manipular e
transformar a natureza; moldar o futuro a partir do presente.
Na base da música, dois elementos são
fundamentais: o som e o tempo. Tudo na música é função destes dois elementos. É
comum na análise musical fazer uma analogia entre os sons percebidos e uma
figura tridimensional. A sinestesia permite-nos "ver" a música como
uma construção com comprimento, altura e profundidade.
O ritmo é o elemento de organização,
frequentemente associado à dimensão horizontal e o que se relaciona mais
diretamente com o tempo (duração) e a intensidade, como se fosse o contorno
básico da música ao longo do tempo. Ritmo, neste sentido, são os sons e
silêncios que se sucedem temporalmente, cada som com uma duração e uma
intensidade próprias, cada silêncio (a intensidade nula) com sua duração. O
silêncio é, portanto, componente da música, tanto quanto os sons. O ritmo só é
percebido como contraste entre som e silêncio ou entre diversas intensidades
sonoras. Pode ser periódico e obedecer a uma pulsação definida ou uma estrutura
métrica, mas também pode ser livre, não periódico e não estruturado (arritmia).
Também é possível que diversos ritmos se sobreponham na mesma composição
(polirritmia). Essas são opções de composição. Enfim é interessante lembrar
que, embora pequenas variações de intensidade de uma nota à seguinte sejam
essenciais ao ritmo, a variação de intensidade ao longo da música é, antes de
tudo, um componente expressivo, a dinâmica musical.
A segunda organização pode ser concebida
visualmente como a dimensão vertical. Daí o nome altura dado a essa
característica do som. O mais agudo, de maior frequência, é dito mais alto. O
mais grave é mais baixo. O elemento organizacional associado às alturas é a
melodia. A melodia é definida como a sucessão de alturas ao longo do tempo, mas
estas alturas estão inevitavelmente sobrepostas à duração e intensidade que
caracterizam o ritmo e, portanto, essas duas estruturas são indissociáveis.
Outra metáfora visual que frequentemente é
utilizada é a da cor. Cada altura representaria uma cor diferente sobre o
desenho rítmico. Não é à toa que muitos termos utilizados na descrição das
alturas, escalas ou melodias também são usados para as cores: tom, tonalidade,
cromatismo. Também não deve ser fruto do acaso o fato de que tanto as cores
como os sons são caracterizados por fenómenos físicos semelhantes: as alturas
são variações de frequências em ondas sonoras (mecânicas). As cores são
variações de frequência em ondas luminosas (eletromagnéticas). Assim como o
ritmo, a melodia pode seguir estruturas definidas como escalas e tonalidades
(música tonal), que determinam a forma como a melodia estabelece tensão e
repouso em torno de um centro tonal. O compositor também pode optar por criar
melodias em que a tensão e o repouso não decorrem de relações hierárquicas entre
as notas (música atonal).
A terceira dimensão é a harmonia ou polifonia.
Visualmente pode ser considerada como a profundidade. Temporalmente é a
execução simultânea de várias melodias que se sobrepõem e se misturam para
compor um som muito mais complexo (contraponto), como se cada melodia fosse uma
camada e a harmonia fosse a sobreposição de todas essas camadas. A harmonia
possui diversas possibilidades: uma melodia principal com um acompanhamento que
se limite a realçar sua progressão harmónica; duas ou mais melodias
independentes que se entrelaçam e se completam harmonicamente; sons aleatórios
que, nos momentos que se encontram formam acordes; e outras tantas em que sons
se encontram ao mesmo tempo. O termo harmonia não é absoluto. Manipula o
conjunto das melodias simultâneas de modo a expressar a vontade do compositor.
As dissonâncias também fazem parte da harmonia tanto quanto as consonâncias.
Adicionalmente, podem-se criar harmonias que obedeçam a duas ou mais
tonalidades simultaneamente (politonalismo - usado com frequência em
composições de Villa-Lobos).
Cada som tocado numa música tem também seu
timbre característico. Definido da forma mais simples o timbre é a identidade
sonora de uma voz ou instrumento musical. É o timbre que nos permite
identificar se é um piano ou uma flauta que está tocando, ou distinguir a voz
de dois cantores. Acontece que o timbre, por si só, é também um conjunto de
elementos sequenciais e simultâneos. Uma série infinita de frequências
sobrepostas que geram uma forma de onda composta pela frequência fundamental e
seu espetro sonoro, formado por sobretons ou harmónicos; e o timbre também
evolui temporalmente em intensidade obedecendo a uma figura chamada envelope. É
como se o timbre reproduzisse em escala temporal muito reduzida o que as notas
produzem em maior escala e cada nota possuísse no seu próprio tecido uma
melodia, um ritmo e uma harmonia próprias.
Segundo o tipo de música, algumas dessas
dimensões podem predominar. Por exemplo, o ritmo bem marcado e fortemente
periódico tem a primazia na música tradicional dos povos africanos. Na maior
parte das culturas orientais, bem como na música tradicional e popular do
ocidente, é a melodia que representa o valor mais destacado. A harmonia, por
sua vez, é o ideal mais elevado da música erudita ocidental.
Estes elementos nem sempre são claramente
reconhecíveis. Onde estará o ritmo ou a melodia no som de uma serra elétrica
incluída numa canção de rock industrial ou numa composição eletroacústica? Mas
se considerarmos apenas o jogo dos sons e do tempo, a organização do sequencial
e do simultâneo e a seleção dos timbres, a música nestas composições será tão
reconhecível quanto a de uma cantata barroca.
Géneros musicais
Assim como existem várias definições para
música, existem muitas divisões e agrupamentos da música em géneros, estilos e
formas. Dividir a música em géneros é uma tentativa de classificar cada
composição de acordo com critérios objetivos, que não são sempre fáceis de
definir.
Uma das divisões mais frequentes separa a
música em grandes grupos:
Música erudita - a música tradicionalmente
dita como "culta" e no geral, mais elaborada. Também é conhecida como
"música clássica", especificamente a composta até o Romantismo por
ter sobrevivido ao tempo ao longo dos séculos, no mesmo sentido em que se fala
de "literatura clássica". Pode ser dito também de música clássica,
obras que são bem familiares e conhecidas, ao ponto de serem assobiadas pelas
pessoas, algo mais popular assim como a literatura. Os seus adeptos consideram
que é feita para durar muito tempo e resistir à moda e a tendências. Em geral
exige uma atitude contemplativa e uma audição concentrada. Alguns consideram
que seja uma forma de música superior a todas as outras e que seja a real arte
musical. Porém, deve também ser lembrado que mesmo os compositores eruditos
várias vezes utilizaram melodias folclóricas (de determinada região) para que
em cima dela fossem compostas variações. Alguns compositores chegaram até a
apenas colocar melodias folclóricas como o segundo sujeito de suas músicas
(como Villa-Lobos fez extensamente). Os géneros eruditos são divididos
sobretudo de acordo com o períodos em que foram compostos ou pelas
características predominantes.
Música
popular - associada a movimentos culturais populares. Conseguiu consolidar-se apenas
após a urbanização e industrialização da sociedade e tornou-se o tipo musical
icónico do século XX; apresenta-se atualmente como a música do dia-a-dia,
tocada em shows e festas, usada para dança e socialização; segue tendências e
modismos e muitas vezes é associada a valores puramente comerciais, porém, ao longo
do tempo, incorporou diversas tendências vanguardistas e inclui estilos de
grande sofisticação. É um tipo musical frequentemente associado a elementos
extra-musicais, como textos (letra de canção), padrões de comportamento e
ideologias. É subdividida em incontáveis géneros distintos, de acordo com a
instrumentação, características musicais predominantes e o comportamento do
grupo que a pratica ou ouve.
Música folclórica ou música nacionalista -
associada a fortes elementos culturais de cada grupo social. Tem caráter
predominantemente rural ou pré-urbano. Normalmente são associadas a festas
folclóricas ou rituais específicos. Pode ser funcional (como canções de plantio
e colheita ou a música das rendeiras e lavadeiras). Normalmente é transmitida oralmente,
por imitação, e costuma durar décadas ou séculos. Incluem-se neste género as
cantigas de roda e de ninar.
Música religiosa (sacra), utilizada em
liturgias, tais como missas e funerais. Também pode ser usada para adoração e
oração ou em diversas festividades religiosas como o Natal ou a Páscoa, entre
outras. Cada religião possui formas específicas de música religiosa, tais como
a música sacra católica, o gospel das igrejas evangélicas, a música judaica, os
tambores do candomblé ou outros cultos africanos, o canto do muezim, no
Islamismo entre outras.
As apresentações musicais são cada vez mais
realizadas pelo mundo, seja em datas festivas, ou em compromissos de artistas.
A música sempre foi uma atração, desde a Antiguidade.
Cada uma dessas divisões possui centenas de subdivisões.
Géneros, subgéneros e estilos são usados numa tentativa de classificar cada
música. Em geral é possível estabelecer com certo grau de acerto o género de
cada peça musical, mas como a música não é um fenómeno estanque, cada músico é
constantemente influenciado por outros géneros. Isso faz com que subgéneros e
fusões sejam criados a cada dia. Por isso devemos considerar a classificação
musical como um método útil para o estudo e comercialização, mas sempre
insuficiente para conter cada forma específica de produção. A divisão em géneros
também é contestada assim como as definições de música porque cada composição
ou execução se pode enquadrar em mais de um género ou estilo e muitos
consideram que esta é uma forma artificial de classificação que não respeita a
diversidade da música. Ainda assim, a classificação em géneros procura agrupar
a música de acordo com características em comum. Quando estas características
se misturam, subgéneros ou estilos de fusão são utilizados num processo
interminável.
Os estilos musicais ao entrar em contato entre
si produzem novos estilos e há uma miscigenação entre culturas para produzir géneros
transnacionais. O blues e o jazz dos Estados Unidos, por exemplo, têm elementos
vocais e instrumentais das tradições anglo-irlandesas, escocesas, alemãs e
afro-americanas que só podem ser fruto da produção do "século XX".
Outra forma de encarar os géneros é
considerá-los como parte de um conjunto mais abrangente de manifestações
culturais. Os géneros são comumente determinados pela tradição e por suas
apresentações e não só pela música de fato. O rock, por exemplo, possui dezenas
de subgéneros, cada um com características musicais diferentes mas também pelas
roupas, cabelos, ornamentação corporal e danças, além de variações de
comportamento do público e dos executantes. Assim, uma canção de Elvis Presley,
um heavy metal ou uma canção punk, embora sejam todas consideradas formas de
rock, representam diversas culturas musicais diferentes.
Também a música erudita, folclórica ou
religiosa possuem comportamentos e rituais associados. Ainda que o mais comum
seja compreender a música erudita como a acústica e intencionada para ser
tocada por indivíduos, muitos trabalhos que usam samples, gravações e ainda
sons mecânicos, não obstante, são descritas como eruditas, uma vez que atendam
aos princípios estéticos do erudito. Por outro lado, um trecho de uma obra
erudita como "Quadros de uma Exposição" de Mussorgsky, tocado por
Emerson, Lake and Palmer torna-se rock progressivo não só por que houve uma
mudança de instrumentação, mas também porque há outra atitude dos executantes e
da plateia.
Métodos de composição
Cada género define um conceito e um método de
composição, que passa pela definição de uma forma, uma instrumentação e também
um "processo" que pode criar sons musicais. A gama de métodos é muito
grande e vai desde a simples seleção de sons naturais, passando pela composição
tradicional que utiliza os sistemas de escalas, tonalidades e notação musical e
varia até à música aleatória, em que sons são escolhidos por programas de
computador, obedecendo a algoritmos programados pelo compositor.
Crítica musical
Crítica musical é uma prática utilizada,
sobretudo pelos meios de comunicação para comentar o valor estético de uma
obra, intérprete ou conjunto musical. Um texto crítico frequentemente refere-se
a um espetáculo ou álbum na época de seu lançamento. O assunto é complexo e polémico,
pois, desde os tempos em que a sua prática era levada a cabo por curiosos
frequentadores da vida social e, consequentemente, dos espetáculos musicais,
nunca se tornou claro qual o seu objetivo principal, nem mesmo quais os
destinatários - o público, o artista ou ambos.
Ao longo do século XX, notou-se que, mesmo sem
finalidade ou utilidade aparente, a crítica musical passou a despertar forte
curiosidade nos que não frequentavam os espetáculos musicais e assim se
apropriavam dos pontos de vista emanados nas críticas. Com o estabelecimento do
comércio musical, os músicos e produtores musicais, em nome da captura das
plateias e dos compradores, passaram a manipular o seu conteúdo com diversos
tipos de favorecimento aos críticos. Com a vulgarização desta prática, a
isenção da crítica passou a ser questionada. Ainda assim, consegue influenciar
o público e uma crítica num veículo respeitado pode, dentro de certos limites,
promover o sucesso ou o fracasso dos artistas, álbuns e espetáculos.
A indústria cultural além de lançar tendências
através de bandas pagas, agrupadas por redes de comunicação, também faz uso da
crítica para vender a sua mercadoria com artigos pagos, manipulação dos meios
de comunição e a massificação de determinados estilos musicais.
Educação musical
Educação musical é o conjunto de práticas
destinadas a transmitir através da vivência musical a teoria e prática da
música nas correntes gerações e inclui: musicalização (métodos destinados a
iniciação ao estudante na prática vocal ou instrumental . Há muitos métodos de
musicalização e os mais conhecidos são o Método Orff, Ritmica de Dalcroze e
Kodály); prática instrumental (ensino e treino de técnicas específicas de cada
instrumento, em grupo e/ou individual , voltados para a audição, prática, treino
auditivo, perceção, etc); prática vocal (ensino e treino de técnicas vocais.
Inclui o canto coral e o canto orfeónico); teoria musical (ensino da teoria
musical, escalas, rítmica, harmonia e notação musical); história da música; perceção
auditiva (treino da perceção melódica, alturas e intervalos, harmónica e
rítmica); composição e regência (curso voltado para pessoas que gostariam de
ser compositores ou regentes, também um curso superior destinado à formação de
regentes).
A música só existe quando executada ou
reproduzida, por isso a atuação é seu aspeto mais importante. Enquanto não
executada a música é apenas potencial. É na execução que ela se torna existente.
A atuação estende-se desde a improvisação de solos às bem organizadas e
elaboradas apresentações repletas de rituais, como o moderno concerto clássico,
o concerto de rock ou festividades religiosas. O executante é o músico, que
pode ser um instrumentista ou cantor.
Solos e conjuntos
A execução pode ser feita individualmente e
neste caso é chamada de solo, palavra que vem do italiano e significa
"sozinho". O extremo oposto é a execução em conjuntos vocais,
instrumentais ou mistos.
Muitas culturas mantêm fortes tradições nas
atuações de solos como, por exemplo, na música clássica indiana, enquanto que
outras, como em Bali, têm ênfase nas atuações de conjuntos. Mas o mais comum é uma
mistura das duas. Os conjuntos podem ter solistas permanentes (como o vocalista
ou o guitarrista principal de uma banda de rock) ou ocasionais (como o solista
de um concerto erudito).
A variedade de conjuntos existentes é imensa e
as combinações possíveis são ilimitadas. É comum classificar os grupos pelo número
de participantes: duos, trios, quartetos, quintetos, sexteto, heptetos e
octetos são os mais comuns. Grupos com mais de oito executantes são
classificados pela sua função: coros, grupo de câmara, bandas, orquestras.
Certos grupos têm um nome específico, como o gamelão, conjunto instrumental
típico da música de Bali. Outros podem partilhar o nome com outros conjuntos e
neste caso são identificados geralmente pelo género: orquestra sinfónica,
orquestra de baile, banda de blues, banda de jazz.
O evento musical
A execução musical pode ocorrer num contexto
íntimo ou mesmo solitário, mas é comum que ocorra dentro de um evento ou
espetáculo. Entre os eventos mais comuns estão as festas, concertos, shows,
óperas, espetáculos de dança, entre outros. Cada evento tem características
próprias e normalmente obedece a um ritual específico. Eventos mais teatrais
como o concerto e a ópera exigem do público uma atitude contemplativa e
silenciosa enquanto que um concerto de rock ou uma roda de samba presumem a
participação ativa do público na forma do canto e dança.
Festivais de música
Além dos próprios espetáculos e eventos feitos
por algumas bandas e grupos isolados, existem também os festivais de música,
onde são apresentados diversos grupos e artistas, na maioria das vezes com o
mesmo género, mas muitas vezes com géneros diversos; podem ocorrer uma única
vez ou periodicamente. Um dos festivais mais conhecidos foi o de Woodstock,
tradicional festival de rock nos Estados Unidos. Alguns festivais como o Live 8
têm abrangência global, outros são limitados à região em que ocorrem, como os
brasileiros Chivas Jazz Festival, São Paulo Mix Festival, Abril Pro Rock e
Festival Pré Amp e o português Super Bock Super Rock. Em alguns casos, um
evento planeado para ter abrangência local ganha importância e é extrapolado
para outras localidades, como o famoso Rock in Rio que após três edições no Rio
de Janeiro passou a ter edições no exterior, como a de 2004 em Lisboa e as que
aconteceram em 2006 e 2007 em Lisboa e Sydney.
Existem muitos festivais de música que
celebram géneros particulares de música. Um dos melhores exemplos é o Festival
de Bayreuth que se dedica exclusivamente às operas de Richard Wagner. Também
podem ser considerados festivais eventos que englobam outras manifestações,
como o Carnaval do Brasil ou o Mardi-Gras em Nova Orleães.
1 comentário:
eu nao gostei muito do bloge
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