domingo, 4 de março de 2012

Música da Antiguidade

Música da Antiguidade, na História da Música, designa a música desenvolvida na Idade Antiga, no seio das primeiras civilizações a utilizarem a escrita, estabelecidas em várias partes do mundo. A música desta época estabeleceu as bases para todo o desenvolvimento musical posterior.

As primeiras civilizações musicais se estabeleceram principalmente nas regiões férteis ao longo das margens de rios na Ásia central, como as aldeias no vale do Jordão, na Mesopotâmia, Índia (vale do Indo atualmente no Paquistão), Egito (Nilo) e China (Huang He). A iconografia dessas regiões é rica em representações de instrumentos musicais e de práticas relacionadas à música. Os primeiros textos destes grupos apresentam a música como atividade ligada à magia, à saúde, à metafísica e até à política destas civilizações, tendo papel frequente em rituais religiosos, festas e guerras. As cosmogonias de várias destas civilizações possuem eventos musicais relacionados à criação do mundo e suas mitologias frequentemente apresentam divindades ligadas à música.

A música da antiguidade clássica, sobretudo a música grega estabeleceu as bases para todo o sistema de modos e escalas utilizado na música ocidental.

Sumérios
Dentre os povos da Mesopotâmia, os Sumérios foram os que mais se destacaram culturalmente. De origens incertas, este povo estabeleceu uma civilização há cerca de seis mil anos. A rica cultura de Sumer floresceu e influenciou, por mais de três mil anos, todos os povos da Ásia Central, como os assírios, cananeus, egípcios, fenícios, babilônios e hebreus. A música exercia papel importante nos ritos solenes ou familiares. Não foram encontrados registros de um sistema de notação musical, mas alguns documentos cuneiformes datados dos séculos XVIII a.C. a XV a.C. atestam a existência de uma elaborada teoria musical. Trabalhos de tradução publicados pelo padre Gurney e Marcele Duchesne-Guillemin entre 1963 e 1969 revelam que estas tábuas tratavam de um sistema de afinação para uma Lira de nove cordas e, por extensão, permitem estabelecer que os sumérios possuiam, além das escalas pentatônicas mais usuais, uma escala diatônica de sete sons.

Foram encontrados também, vestigios de diversos instrumentos avançados para a época. Uma harpa de cordas percutidas, ancestral do Piano, flautas de cana e de prata, liras de cinco a onze cordas, uma espécie de alaúde de braço longo e uma harpa com coluna de apoio (por volta do Século XXV a.C.).

Assírios
Os assírios deixaram vasta documentação de sua cultura musical na forma de pinturas, esculturas, baixos-relevos e textos literários. Os músicos tinham papel proeminente na sociedade e são mais reverenciados que os sábios. A música, para este povo, era associada ao poder e os músicos dos povos conquistados sempre eram poupados e levados até as cidades assírias para que sua arte pudesse ser absorvida. Este é o primeiro povo que se tem notícia a formar grandes orquestras que podiam chegar a 150 componentes entre cantores e instrumentistas.

Egito
Estudiosos acreditam que a música no Antigo Egito tenha origens tão remotas como a da Mesopotâmia. Graças a frescos em templos e túmulos, é possível reconstruir com relativa precisão o desenvolvimento dos instrumentos musicais e o uso da música na civilização egípcia. Entre o sexto e o quarto milénio a.C., após o estabelecimento das primeiras cidades, a dança era a principal manifestação musical e os instrumentos provavelmente vieram do sul da África e da Suméria.
Na época do Império Antigo, entre a III e X Dinastias, c. 2635 a 2060 a.C., a música egípcia viveu seu auge. Muitas representações mostram pequenos conjuntos musicais, (com cantores, harpas e flautas) e inscrições coreográficas descrevem danças realizadas para o Faraó. Acredita-se que este tenha sido o período de maior florescimento da arte musical egípcia.

No Império Médio (XI a XVII dinastia) conjuntos maiores e até orquestras são representados. Entre os instrumentos, há harpas, alaúdes, liras, flautas, flautas de palheta dupla (oboés), trombetas, tambores e crótalos. No Império Novo (XVIII a XX dinastia), estes instrumentos se aperfeiçoam. A música passa a ter papel ritual e militar.

Alguns destes instrumentos foram encontrados em escavações de pirâmides, templos e túmulos subterrâneos do Vale dos Reis, mas infelizmente, nenhum deles de afinação fixa. Isso impossibilita definir que tipos de escalas musicais eram utilizadas. Não foi encontrado nenhum texto que permita deduzir a existência de um sistema de notação e também não há textos sobre teoria musical. Aparentemente isso se deve ao fato de que os músicos não gozavam, entre os egípcios, do mesmo status que tinham entre os sumérios. Muitos afrescos mostram músicos sempre ajoelhados e vestidos como escravos. A posição subalterna não permitia a transmissão dessa arte pouco valorizada através dos textos.

A cultura musical do Egito Antigo entrou em decadência junto ao próprio Império. Com as sucessivas invasões, a música do Egito passou a ser influenciada pelos gregos e romanos, perdendo totalmente sua independência. Músicos gregos são contratados para integrar a corte e trazem consigo alguns de seus instrumentos. Até uma espécie de órgão hidráulico foi encontrado. Alguns musicólogos acreditam que os últimos vestígios da música faraônica ainda possam ser identificados na liturgia copta.

Hebreus
Graças à Tora e à extensa coletânea de textos religiosos legada pelos hebreus e judeus, é possível reconstruir com relativa precisão a história da música desse povo. Embora haja referências à música entre os descendentes de Adão, é provável que a música do povo hebreu só tenha conhecido seu desenvolvimento pleno e independente após o reinado de Davi (c. 1000 a 962 a.C.). Antes disso, o povo hebreu era composto de tribos nómadas e provavelmente sua música sofreu influências de todos os povos com que conviveu, como os caldeus, babilónios e egípcios. Somente após a fixação das 12 tribos em Canaã (c. de 1250 a.C.) é que a música hebraica pode conhecer um desenvolvimento próprio. Infelizmente não há registos que tratem dos sistemas teóricos, escalas, estilos ou documentos sobre organologia.

O papel social da música, no entanto é bem conhecido e os textos do Antigo Testamento estão repletos de relatos sobre instrumentos e sua utilização religiosa ou em festas. Entre os instrumentos mais utilizados estão vários tipos de instrumentos de sopro (trombetas e trompas, como o shofar, flautas, oboés), percussão (tambores, sistros e crótalos) e cordas (como liras, cítaras e harpas). A música tinha papel importante nas festividades e nas atividades do Templo de Jerusalem.

Índia
A mitologia hindu diz que Shiva ensinou a música aos homens há cerca de seis mil anos. No entanto, os achados arqueológicos demonstram que é pouco provável que uma civilização sedentária tenha se estabelecido no vale do Indo antes de 2500 a.C.. A civilização pré-ariana tornou-se prospera e é provável que uma cultura musical própria tenha se desenvolvido, possivelmente com influências da Mesopotâmia. Embora os Vedas (escritos entre 1500 a.C. e 500 a.C.) documentem a importância religiosa da música na civilização indiana e forneçam extensa informação mitológica, nenhum documento ou informação precisa sobre como seria essa música foi encontrado. Desse fato decorre que pouco ou nada se sabe sobre os instrumentos, escalas e toda a teoria musical na Índia Antiga.
China
Após o estabelecimento da civilização chinesa no Huang-He, a música começou a ter papel importante. Os músicos tinham um papel social respeitado e os instrumentos musicais tiveram grande desenvolvimento. Vários instrumentos de cordas (liras e cítaras) bem como o sheng (órgão de boca com palhetas livres) já existiam no terceiro milénio a.C.

O sistema de escala chinês (sistema Lyu), baseado em tubos diapasões que fixam as relações de intervalos foi criado no reinado de Huang-Ti (2698 a.C. a 2598 a.C). Este sistema continua em uso até hoje com pouquíssimas alterações. Não se sabe se houve um sistema de notação, pois um decreto imperial em 212 a.C. ordenou a queima de todos os livros. Apesar disso, a música sobreviveu através de ensinamentos tradicionais e influenciou a música de todos os países do leste asiático.

A música no ocidente, assim como as mais diversas manifestações artísticas, tem sua origem na Grécia e Roma antigas.
Grécia – Grande parte da terminologia musical, dos modos musicais e dos tipos de temperamento (afinação) das escalas tem origem na teoria musical grega.
No século VI a.C. Pitágoras demonstra proporções intervalares, numéricas, na formação das escalas musicais. São bases severas para evitar o subjetivismo incontrolável. A essa posição se opõe Aristogenos de Tarento, para quem a base de uma teoria musical não é numérica e sim a experiência auditiva.
Os gregos desenvolvem vasta teoria e produção musical ligada às festividades e ao teatro. Uma parte dessas composições é recuperada graças à notação musical baseada no alfabeto, como os Fragmentos de Eurípedes e a Canção de Seikilos.

Roma – Escravos romanos oriundos da Grécia e cercanias difundem a tradição musical grega e tornam-se figuras centrais da música romana, presente em exibições de lutas e espetáculos em anfiteatros.
Os romanos recompilam, nos séculos II e IV a.C., a teoria musical grega. Destacam-se Euclides de Alexandria (século III a.C.), Plutarco (século I a.C.) e Boécio, que no ano 500 d.C. traça as bases da teoria musical da Idade Média latina.

Música erudita ocidental
Assim como em outras culturas, no ocidente distingue-se a música popular, de bases coletivas, da música erudita, cujo código nem sempre é acessível a todos. Essas duas vertentes ora se tocam, ora se afastam, a ponto de uma criar transformações na outra.
A história da música erudita ocidental está associada à Igreja, às cortes, aos salões da burguesia, às salas de concerto e às universidades.

http://pt.wikipedia.org/wiki/M%C3%BAsica_da_Antiguidade
http://harmoniacarlucha.blogspot.com/2009/09/musica-na-antiguidade.html

Quadro cronológico de géneros musicais

Quadro cronológico de compositores

quinta-feira, 1 de março de 2012

O que é a Música

A música (do grego μουσική τέχνη - musiké téchne, a arte das musas) é uma forma de arte que se constitui basicamente em combinar sons e silêncio seguindo uma pré-organização ao longo do tempo.
 
É considerada por diversos autores como uma prática cultural e humana. Atualmente não se conhece nenhuma civilização ou agrupamento que não possua manifestações musicais próprias. Embora nem sempre seja feita com esse objetivo, a música pode ser considerada como uma forma de arte, considerada por muitos como sua principal função.

A criação, a performance, o significado e até mesmo a definição de música variam de acordo com a cultura e o contexto social. A música vai desde composições fortemente organizadas (e a sua recriação na performance), música improvisada até formas aleatórias. A música pode ser dividida em géneros e subgéneros, contudo as linhas divisórias e as relações entre géneros musicais são muitas vezes subtis, algumas vezes abertas à interpretação individual e ocasionalmente controversas. Dentro das "artes", a música pode ser classificada como uma arte de representação, uma arte sublime, uma arte de espetáculo.

Para indivíduos de muitas culturas, a música está extremamente ligada à sua vida. A música expandiu-se ao longo dos anos, e atualmente se encontra em diversas utilidades não só como arte, mas também como a militar, educacional ou terapêutica (musicoterapia). Além disso, tem presença central em diversas atividades coletivas, como os rituais religiosos, festas e funerais.

Há evidências de que a música é conhecida e praticada desde a pré-história. Provavelmente a observação dos sons da natureza tenha despertado no homem, através do sentido auditivo, a necessidade ou vontade de uma atividade que se baseasse na organização de sons. Embora nenhum critério científico permita estabelecer seu desenvolvimento de forma precisa, a história da música confunde-se, com a própria história do desenvolvimento da inteligência e da cultura humana.

Definições de música
Definir a música não é tarefa fácil porque apesar de ser intuitivamente conhecida por qualquer pessoa, é difícil encontrar um conceito que abarque todos os significados dessa prática. Mais do que qualquer outra manifestação humana, a música contém e manipula o som e organiza-o no tempo. Talvez por essa razão ela esteja sempre fugindo de qualquer definição, pois ao procurá-la, a música já se modificou, já evoluiu. E esse jogo do tempo é simultaneamente físico e emocional. Como "arte do efémero", a música não pode ser completamente conhecida e por isso é tão difícil enquadrá-la num conceito simples.
A música também pode ser definida como uma forma linguagem que se serve da voz, dos instrumentos musicais e de outros artifícios, para expressar algo a alguém.

Um dos poucos consensos é que ela consiste numa combinação de sons e de silêncios, numa sequência simultânea ou em sequências sucessivas e simultâneas que se desenvolvem ao longo do tempo. Neste sentido, engloba toda combinação de elementos sonoros destinados a serem percebidos pela audição. Isso inclui variações nas características do som (altura, duração, intensidade e timbre) que podem ocorrer sequencialmente (ritmo e melodia) ou simultaneamente (harmonia). Ritmo, melodia e harmonia são entendidos aqui apenas no seu sentido de organização temporal, pois a música pode conter, propositadamente, harmonias ruidosas (que contêm ruídos ou sons externos ao tradicional/convencional) e arritmias (ausência de ritmo formal ou desvios rítmicos).
 E é nesse ponto que o consenso deixa de existir. As perguntas que decorrem desta simples constatação encontram diferentes respostas, se encaradas do ponto de vista do criador (compositor), do executante (músico), do historiador, do filósofo, do antropólogo, do linguista ou do amador. E as perguntas são muitas: Toda combinação de sons e silêncios é música? Música é arte? Ou de outra forma, a música é sempre arte? A música existe antes de ser ouvida? O que faz com que a música seja música é algum aspecto objetivo ou ela é uma construção da consciência e da percepção?

Mesmo os adeptos da música aleatória, responsáveis pela mais recente desconstrução e reformulação da prática musical, reconhecem que a música se inspira sempre numa "matéria sonora", cujos dados perceptíveis podem ser reagrupados para construir uma "matéria musical", que obedece a um objetivo de representação, próprio do compositor e mediado pela técnica. Em qualquer forma de perceção, os estímulos vindos dos órgãos dos sentidos precisam ser interpretados pela pessoa que os recebe. Assim também ocorre com a perceção musical, que se dá principalmente pelo sentido da audição. O ouvinte não pode alcançar a totalidade dos objetivos do compositor. Por isso reinterpreta o "material musical" de acordo com seus próprios critérios, que envolvem aquilo que ele conhece, a sua cultura e o seu estado emocional.
 
Da diversidade de interpretações e também das diferentes funções em que a música pode ser utilizada se conclui que a música não pode ter uma só definição precisa, que abarque todos os seus usos e géneros. Todavia, é possível apresentar algumas definições e conceitos que fundamentam uma "história da música" em perpétua evolução, tanto no domínio do popular, do tradicional, do folclórico ou do erudito.

O campo das definições possíveis é na verdade muito grande. Há definições de vários músicos (como Mozart, Beethoveen, Schönberg, Stravinsky, Varèse, Gould, Jean Guillou, Boulez, Berio e Harnoncourt), bem como de musicólogos como Carl Dalhaus, Jean Molino, Jean-Jacques Nattiez, Célestin Deliège, entre outros. Entretanto, quer sejam formuladas por músicos, musicólogos ou outras pessoas, elas dividem-se em duas grandes classes: uma abordagem intrínseca, imanente e naturalista, contra uma outra que a considera antes de tudo uma arte dos sons e se concentra na sua utilização e perceção.

A abordagem naturalista
De acordo com a primeira abordagem, a música existe antes de ser ouvida; ela pode mesmo ter uma existência autónoma na natureza e pela natureza. Os adeptos desse conceito afirmam que, em si mesma, a música não constitui arte, mas criá-la e expressá-la sim. Enquanto ouvir música possa ser um lazer e aprendê-la e entendê-la seja fruto da disciplina, a música em si é um fenómeno natural e universal. A teoria da ressonância natural de Mersenne e Rameau vai neste sentido, pois ao afirmar a natureza matemática das relações harmónicas e a sua influência na perceção auditiva da consonância e dissonância, ela estabelece a preponderância do natural sobre a prática formal. Consideram ainda que, por ser um fenómeno natural e intuitivo, os seres humanos podem executar e ouvir a música virtualmente nas suas mentes mesmo sem a aprender ou compreender. Compor, improvisar e executar são formas de arte que utilizam o fenómeno “música”.

Sob esse ponto de vista, não há a necessidade de comunicação ou mesmo da percepção para que haja música. Ela decorre de interações físicas e prescinde do humano.

A abordagem funcional, artística e espiritual
Para um outro grupo, a música não pode funcionar a não ser que seja percebida. Não há, portanto, música se não houver uma obra musical que estabelece um diálogo entre o compositor e o ouvinte. Este diálogo funciona por intermédio de um gesto musical formante (dado pela notação) ou formalizado (por meio da interpretação). Neste grupo há quem defina música como sendo "a arte de manifestar os afetos da alma, através do som" (Bona). Esta expressão informa as seguintes características: 1) música é arte: manifestação estética, mas com especial intenção a uma mensagem emocional; 2) música é manifestação, isto é, meio de comunicação, uma das formas de linguagem a ser considerada, uma forma de transmitir e rececionar uma certa mensagem, entre indivíduos considerados, ou entre a emoção e os sentidos do próprio indivíduo que entoa uma música; 3) utiliza-se do som, é a ideia de que o som, ainda que sem o silêncio pode produzir música, o silêncio individualmente considerado não produz música.

Para os adeptos dessa abordagem, a música só existe como manifestação humana. É atividade artística por excelência e possibilita ao compositor ou executante compartilhar suas emoções e sentimentos. Sob essa ótica, a música não pode ser um fenómeno natural, pois decorre de um desejo humano de modificar o mundo, de torná-lo diferente do estado natural. Em cada ponta dessa cadeia, há o ser humano (Homem). A música é sempre concebida e recebida por um ser humano. Neste caso, a definição da música, como em todas as artes, passa também pela definição de uma certa forma de comunicação entre os seres humanos. Como não pode haver diálogo ou comunicação sem troca de signos (sinais), para essa vertente a música é um fenómeno semiótico.

Definição negativa
Uma vez que é difícil obter um conceito sobre o que é a música, alguns tendem a defini-la pelo que não é:
A música não é uma linguagem normal. A música não é capaz de significar da mesma forma que as línguas comuns. Ela não é um discurso verbal, nem uma língua, nem uma linguagem no sentido da linguística (ou seja, uma dupla articulação signo/significado), mas sim uma linguagem peculiar, cujos modos de articulação signo musical/significado musical vêm sendo estudados pela Semiótica da Música.
 A música não é ruído. O ruído pode ser um componente da música, assim como também é um componente (essencial) do som. Embora a Arte dos ruídos teorizasse a introdução dos sons da vida quotidiana na criação musical, o termo "ruído" também pode ser compreendido como desordem. E a música é uma organização, uma composição, uma construção ou recorte deliberado (se considerarmos os elementos componentes do som musical). A oposição que normalmente se faz entre estas duas palavras pode conduzir à confusão e para evitá-la é preciso se referir sempre à ideia de organização. Quando Varèse e Schaeffer utilizam ruídos de tráfego na música concreta ou algumas bandas de Rock industrial, como o Einstürzende Neubauten, utilizam sons de máquinas, devemos entender que o "ruído" selecionado, recortado da realidade e reorganizado se torna música pela intenção do artista.

A música não é totalizante. Ela não tem o mesmo sentido para todos que a ouvem. Cada indivíduo usa a sua própria emotividade, sua imaginação, suas lembranças e suas raízes culturais para dar a ela um sentido que lhe pareça apropriado. Podemos afirmar que certos aspectos da música têm efeitos semelhantes em populações muito diferentes (por exemplo, a aceleração do ritmo pode ser interpretada frequentemente como manifestação de alegria), mas todos os detalhes, todas as subtilezas de uma obra ou de uma improvisação não são sempre interpretadas ou sentidas de maneira semelhante por pessoas de classes sociais ou de culturas diferentes.

A música não é sua representação gráfica. Uma partitura é um meio eficiente de representar a maneira esperada da execução de uma composição, mas ela só se torna música quando executada, ouvida ou percebida. A partitura pode ter méritos gráficos ou estéticos independentes da execução, mas não é, por si só, música.

Definição social
Música na sociedade
Por trás da multiplicidade de definições, encontra-se um verdadeiro fato social, que coloca em jogo tanto os critérios históricos, quanto os geográficos. A música passa tanto pelos símbolos de sua escritura (notação musical), como pelos sentidos que são atribuídos a seu valor afetivo ou emocional. É por isso que, no ocidente, nunca parou de se estender o fosso entre as músicas do ouvido (próximas da terra e do folclore e dotadas de uma certa espiritualidade) e as músicas do olho (marcadas pela escritura, pelo discurso). Os nossos valores ocidentais privilegiam a autenticidade autoral e procuram inscrever a música dentro de uma história que a liga, através da escrita, à memória de um passado idealizado. As músicas não ocidentais, como a africana apelam mais ao imaginário, ao mito, à magia e fazem a ligação entre a potencialidade espiritual e corporal. O ouvinte desta música, bem como o da música folclórica ou popular ocidental participa diretamente da expressão do que ouve, através da dança ou do canto grupal, enquanto que um ouvinte de um concerto na tradição erudita assume uma atitude contemplativa que quase impede sua participação corporal, como se só a sua mente estivesse presente ao concerto. O desenvolvimento da notação musical e a constituição artificial do sistema de temperamentos consolidou na música, o dualismo corpo-mente típico do racionalismo cartesiano. E de tal forma esse movimento se fortaleceu que mesmo a música popular ocidental, ainda que menos dualista, se rendeu à sistematização, na qual se mantém até hoje.

Música: um fenómeno social
As práticas musicais não podem ser dissociadas do contexto cultural. Cada cultura possui seus próprios tipos de música totalmente diferentes em seus estilos, abordagens e concepções do que é a música e do papel que ela deve exercer na sociedade. Entre as diferenças estão: a maior propensão ao humano ou ao sagrado; a música funcional em oposição à música como arte; a concepção teatral do Concerto contra a participação festiva da música folclórica e muitas outras.

Falar da música de um ou outro grupo social, de uma região do globo ou de uma época, faz referência a um tipo específico de música que pode agrupar elementos totalmente diferentes (música tradicional, erudita, popular ou experimental). Esta diversidade estabelece um compromisso entre o músico (compositor ou intérprete) e o público que deve adaptar sua escuta a uma cultura que ele descobre, ao mesmo tempo que percebe a obra musical.

Desde o início do século XX, alguns musicólogos estabeleceram uma "antropologia musical", que tende a provar que, mesmo se alguém tem um certo prazer ao ouvir uma determinada obra, não pode vivê-la da mesma forma que os membros das etnias aos quais elas se destinam. Nos círculos académicos, o termo original para estudos da música genérica foi "musicologia comparativa", que foi renomeada em meados do século XX para "etnomusicologia", que se apresentou, ainda assim, como uma definição insatisfatória.

Para ilustrar esse problema cultural da representação das obras musicais pelo ouvinte, o musicólogo Jean-Jacques Nattiez (Fondements d’une sémiologie de la musique, 1976) cita uma história relatada por Roman Jakobson em uma conferência de G. Becking, linguista e musicólogo, pronunciada em 1932 no Círculo Línguístico de Praga:

Um indígena africano toca uma melodia na sua flauta de bambu. O músico europeu terá muito trabalho para imitar fielmente a melodia exótica, mas quando ele consegue enfim determinar as alturas dos sons, ele está certo de ter reproduzido fielmente a peça de música africana. Mas o indígena não está de acordo, pois o europeu não prestou atenção suficiente ao timbre dos sons. Então o indígena toca a mesma ária noutra flauta. O europeu pensa que se trata de uma outra melodia, porque as alturas dos sons mudaram completamente em razão da construção do outro instrumento, mas o indígena jura que é a mesma ária. A diferença provém de que o mais importante para o indígena é o timbre, enquanto que para o europeu é a altura do som. O importante em música não é o dado natural, não são os sons tais como são realizados, mas como são intencionados. O indígena e o europeu ouvem o mesmo som, mas ele tem um valor totalmente diferente para cada um, porque as conceções derivam de dois sistemas musicais inteiramente diferentes; o som em música funciona como elemento de um sistema. As realizações podem ser múltiplas, o acústico pode determiná-las exatamente, mas o essencial em música é que a peça possa ser reconhecida como idêntica.

História da música
A história da música é o estudo das origens e evolução da música ao longo do tempo. Como disciplina histórica insere-se na história da arte e no estudo da evolução cultural dos povos. Como disciplina musical, normalmente é uma divisão da musicologia e da teoria musical. O seu estudo, como qualquer área da história, é trabalho dos historiadores, porém também é frequentemente realizado pelos musicólogos.
Este termo está popularmente associado à história da música erudita ocidental e frequentemente afirma-se que a história da música se origina na música da Grécia Antiga e se desenvolve através de movimentos artísticos associados às grandes eras artísticas de tradição europeia (como a era medieval, renascimento, barroco, classicismo, etc.). Este conceito, no entanto é equivocado, pois essa é apenas a história da música no ocidente. A disciplina, no entanto, estuda o desenvolvimento da música em todas as épocas e civilizações, pois a música é um fenómeno que perpassa toda a humanidade, em todo o globo, desde a pré-história.

Em 1957 Marius Schneider escreveu: “Até poucas décadas atrás o termo ‘história da música’ significava meramente a história da música erudita europeia. Foi apenas gradualmente que o escopo da música foi estendido para incluir a fundação indispensável da música não europeia e finalmente da música pré-histórica."

Há, portanto, tantas histórias da música quanto há culturas no mundo e todas as suas vertentes têm desdobramentos e subdivisões. Podemos assim falar da história da música do ocidente, mas também podemos desdobrá-la na história da música erudita do ocidente, história da música popular do ocidente, história da música do Brasil, História do samba, história do fado e assim sucessivamente.

Teoria musical
Teoria musical é o nome que é dado a qualquer sistema destinado a analisar, compreender e se comunicar a respeito da música. Assim como em qualquer área do conhecimento, a teoria musical possui várias escolas, que podem possuir conceitos divergentes. A sua própria divisão da teoria em áreas de estudo não é consensual, mas de forma geral, qualquer escola possui ao menos: análise musical, que estuda os elementos do som e estruturas musicais e também as formas musicais; estética musical, que inclui a divisão da música em géneros e a crítica musical; notação musical.

Análise musical
Apesar de toda a discussão já apresentada, a música quando composta e executada deliberadamente é considerada arte por qualquer das fações. E como arte, é criação, representação e comunicação. Para obter essas finalidades, deve obedecer a um método de composição, que pode variar desde o mais simples (a pura sorte na música aleatória), até aos mais complexos. Pode ser composta e escrita para permitir a execução idêntica em várias ocasiões, ou ser improvisada e ter uma existência efémera. A música dos pigmeus do Gabão, o Rock and roll, o Jazz, a música sinfónica, cada composição ou execução obedece a uma estética própria, mas todas cumprem os objetivos artísticos: criar o desconhecido a partir de elementos conhecidos; manipular e transformar a natureza; moldar o futuro a partir do presente.

Qualquer que seja o método e o objetivo estético, o material sonoro a ser usado pela música é tradicionalmente dividido de acordo com três elementos organizacionais: melodia, harmonia e ritmo. No entanto, quando nos referimos aos aspectos do som deparamos-nos com uma lista mais abrangente de componentes: altura, timbre, intensidade e duração, que se combinam para criar outros aspectos como: estrutura, textura e estilo, bem como a localização espacial (ou o movimento de sons no espaço), o gesto e a dança.
Na base da música, dois elementos são fundamentais: o som e o tempo. Tudo na música é função destes dois elementos. É comum na análise musical fazer uma analogia entre os sons percebidos e uma figura tridimensional. A sinestesia permite-nos "ver" a música como uma construção com comprimento, altura e profundidade.

O ritmo é o elemento de organização, frequentemente associado à dimensão horizontal e o que se relaciona mais diretamente com o tempo (duração) e a intensidade, como se fosse o contorno básico da música ao longo do tempo. Ritmo, neste sentido, são os sons e silêncios que se sucedem temporalmente, cada som com uma duração e uma intensidade próprias, cada silêncio (a intensidade nula) com sua duração. O silêncio é, portanto, componente da música, tanto quanto os sons. O ritmo só é percebido como contraste entre som e silêncio ou entre diversas intensidades sonoras. Pode ser periódico e obedecer a uma pulsação definida ou uma estrutura métrica, mas também pode ser livre, não periódico e não estruturado (arritmia). Também é possível que diversos ritmos se sobreponham na mesma composição (polirritmia). Essas são opções de composição. Enfim é interessante lembrar que, embora pequenas variações de intensidade de uma nota à seguinte sejam essenciais ao ritmo, a variação de intensidade ao longo da música é, antes de tudo, um componente expressivo, a dinâmica musical.

A segunda organização pode ser concebida visualmente como a dimensão vertical. Daí o nome altura dado a essa característica do som. O mais agudo, de maior frequência, é dito mais alto. O mais grave é mais baixo. O elemento organizacional associado às alturas é a melodia. A melodia é definida como a sucessão de alturas ao longo do tempo, mas estas alturas estão inevitavelmente sobrepostas à duração e intensidade que caracterizam o ritmo e, portanto, essas duas estruturas são indissociáveis.

Outra metáfora visual que frequentemente é utilizada é a da cor. Cada altura representaria uma cor diferente sobre o desenho rítmico. Não é à toa que muitos termos utilizados na descrição das alturas, escalas ou melodias também são usados para as cores: tom, tonalidade, cromatismo. Também não deve ser fruto do acaso o fato de que tanto as cores como os sons são caracterizados por fenómenos físicos semelhantes: as alturas são variações de frequências em ondas sonoras (mecânicas). As cores são variações de frequência em ondas luminosas (eletromagnéticas). Assim como o ritmo, a melodia pode seguir estruturas definidas como escalas e tonalidades (música tonal), que determinam a forma como a melodia estabelece tensão e repouso em torno de um centro tonal. O compositor também pode optar por criar melodias em que a tensão e o repouso não decorrem de relações hierárquicas entre as notas (música atonal).

A terceira dimensão é a harmonia ou polifonia. Visualmente pode ser considerada como a profundidade. Temporalmente é a execução simultânea de várias melodias que se sobrepõem e se misturam para compor um som muito mais complexo (contraponto), como se cada melodia fosse uma camada e a harmonia fosse a sobreposição de todas essas camadas. A harmonia possui diversas possibilidades: uma melodia principal com um acompanhamento que se limite a realçar sua progressão harmónica; duas ou mais melodias independentes que se entrelaçam e se completam harmonicamente; sons aleatórios que, nos momentos que se encontram formam acordes; e outras tantas em que sons se encontram ao mesmo tempo. O termo harmonia não é absoluto. Manipula o conjunto das melodias simultâneas de modo a expressar a vontade do compositor. As dissonâncias também fazem parte da harmonia tanto quanto as consonâncias. Adicionalmente, podem-se criar harmonias que obedeçam a duas ou mais tonalidades simultaneamente (politonalismo - usado com frequência em composições de Villa-Lobos).

Cada som tocado numa música tem também seu timbre característico. Definido da forma mais simples o timbre é a identidade sonora de uma voz ou instrumento musical. É o timbre que nos permite identificar se é um piano ou uma flauta que está tocando, ou distinguir a voz de dois cantores. Acontece que o timbre, por si só, é também um conjunto de elementos sequenciais e simultâneos. Uma série infinita de frequências sobrepostas que geram uma forma de onda composta pela frequência fundamental e seu espetro sonoro, formado por sobretons ou harmónicos; e o timbre também evolui temporalmente em intensidade obedecendo a uma figura chamada envelope. É como se o timbre reproduzisse em escala temporal muito reduzida o que as notas produzem em maior escala e cada nota possuísse no seu próprio tecido uma melodia, um ritmo e uma harmonia próprias.

Segundo o tipo de música, algumas dessas dimensões podem predominar. Por exemplo, o ritmo bem marcado e fortemente periódico tem a primazia na música tradicional dos povos africanos. Na maior parte das culturas orientais, bem como na música tradicional e popular do ocidente, é a melodia que representa o valor mais destacado. A harmonia, por sua vez, é o ideal mais elevado da música erudita ocidental.

Estes elementos nem sempre são claramente reconhecíveis. Onde estará o ritmo ou a melodia no som de uma serra elétrica incluída numa canção de rock industrial ou numa composição eletroacústica? Mas se considerarmos apenas o jogo dos sons e do tempo, a organização do sequencial e do simultâneo e a seleção dos timbres, a música nestas composições será tão reconhecível quanto a de uma cantata barroca.

Géneros musicais
Assim como existem várias definições para música, existem muitas divisões e agrupamentos da música em géneros, estilos e formas. Dividir a música em géneros é uma tentativa de classificar cada composição de acordo com critérios objetivos, que não são sempre fáceis de definir.
Uma das divisões mais frequentes separa a música em grandes grupos:

Música erudita - a música tradicionalmente dita como "culta" e no geral, mais elaborada. Também é conhecida como "música clássica", especificamente a composta até o Romantismo por ter sobrevivido ao tempo ao longo dos séculos, no mesmo sentido em que se fala de "literatura clássica". Pode ser dito também de música clássica, obras que são bem familiares e conhecidas, ao ponto de serem assobiadas pelas pessoas, algo mais popular assim como a literatura. Os seus adeptos consideram que é feita para durar muito tempo e resistir à moda e a tendências. Em geral exige uma atitude contemplativa e uma audição concentrada. Alguns consideram que seja uma forma de música superior a todas as outras e que seja a real arte musical. Porém, deve também ser lembrado que mesmo os compositores eruditos várias vezes utilizaram melodias folclóricas (de determinada região) para que em cima dela fossem compostas variações. Alguns compositores chegaram até a apenas colocar melodias folclóricas como o segundo sujeito de suas músicas (como Villa-Lobos fez extensamente). Os géneros eruditos são divididos sobretudo de acordo com o períodos em que foram compostos ou pelas características predominantes.

Música popular - associada a movimentos culturais populares. Conseguiu consolidar-se apenas após a urbanização e industrialização da sociedade e tornou-se o tipo musical icónico do século XX; apresenta-se atualmente como a música do dia-a-dia, tocada em shows e festas, usada para dança e socialização; segue tendências e modismos e muitas vezes é associada a valores puramente comerciais, porém, ao longo do tempo, incorporou diversas tendências vanguardistas e inclui estilos de grande sofisticação. É um tipo musical frequentemente associado a elementos extra-musicais, como textos (letra de canção), padrões de comportamento e ideologias. É subdividida em incontáveis géneros distintos, de acordo com a instrumentação, características musicais predominantes e o comportamento do grupo que a pratica ou ouve.

Música folclórica ou música nacionalista - associada a fortes elementos culturais de cada grupo social. Tem caráter predominantemente rural ou pré-urbano. Normalmente são associadas a festas folclóricas ou rituais específicos. Pode ser funcional (como canções de plantio e colheita ou a música das rendeiras e lavadeiras). Normalmente é transmitida oralmente, por imitação, e costuma durar décadas ou séculos. Incluem-se neste género as cantigas de roda e de ninar.

Música religiosa (sacra), utilizada em liturgias, tais como missas e funerais. Também pode ser usada para adoração e oração ou em diversas festividades religiosas como o Natal ou a Páscoa, entre outras. Cada religião possui formas específicas de música religiosa, tais como a música sacra católica, o gospel das igrejas evangélicas, a música judaica, os tambores do candomblé ou outros cultos africanos, o canto do muezim, no Islamismo entre outras.

As apresentações musicais são cada vez mais realizadas pelo mundo, seja em datas festivas, ou em compromissos de artistas. A música sempre foi uma atração, desde a Antiguidade.
Cada uma dessas divisões possui centenas de subdivisões. Géneros, subgéneros e estilos são usados numa tentativa de classificar cada música. Em geral é possível estabelecer com certo grau de acerto o género de cada peça musical, mas como a música não é um fenómeno estanque, cada músico é constantemente influenciado por outros géneros. Isso faz com que subgéneros e fusões sejam criados a cada dia. Por isso devemos considerar a classificação musical como um método útil para o estudo e comercialização, mas sempre insuficiente para conter cada forma específica de produção. A divisão em géneros também é contestada assim como as definições de música porque cada composição ou execução se pode enquadrar em mais de um género ou estilo e muitos consideram que esta é uma forma artificial de classificação que não respeita a diversidade da música. Ainda assim, a classificação em géneros procura agrupar a música de acordo com características em comum. Quando estas características se misturam, subgéneros ou estilos de fusão são utilizados num processo interminável.

Os estilos musicais ao entrar em contato entre si produzem novos estilos e há uma miscigenação entre culturas para produzir géneros transnacionais. O blues e o jazz dos Estados Unidos, por exemplo, têm elementos vocais e instrumentais das tradições anglo-irlandesas, escocesas, alemãs e afro-americanas que só podem ser fruto da produção do "século XX".

Outra forma de encarar os géneros é considerá-los como parte de um conjunto mais abrangente de manifestações culturais. Os géneros são comumente determinados pela tradição e por suas apresentações e não só pela música de fato. O rock, por exemplo, possui dezenas de subgéneros, cada um com características musicais diferentes mas também pelas roupas, cabelos, ornamentação corporal e danças, além de variações de comportamento do público e dos executantes. Assim, uma canção de Elvis Presley, um heavy metal ou uma canção punk, embora sejam todas consideradas formas de rock, representam diversas culturas musicais diferentes.

Também a música erudita, folclórica ou religiosa possuem comportamentos e rituais associados. Ainda que o mais comum seja compreender a música erudita como a acústica e intencionada para ser tocada por indivíduos, muitos trabalhos que usam samples, gravações e ainda sons mecânicos, não obstante, são descritas como eruditas, uma vez que atendam aos princípios estéticos do erudito. Por outro lado, um trecho de uma obra erudita como "Quadros de uma Exposição" de Mussorgsky, tocado por Emerson, Lake and Palmer torna-se rock progressivo não só por que houve uma mudança de instrumentação, mas também porque há outra atitude dos executantes e da plateia.

Métodos de composição
Cada género define um conceito e um método de composição, que passa pela definição de uma forma, uma instrumentação e também um "processo" que pode criar sons musicais. A gama de métodos é muito grande e vai desde a simples seleção de sons naturais, passando pela composição tradicional que utiliza os sistemas de escalas, tonalidades e notação musical e varia até à música aleatória, em que sons são escolhidos por programas de computador, obedecendo a algoritmos programados pelo compositor.

Crítica musical
Crítica musical é uma prática utilizada, sobretudo pelos meios de comunicação para comentar o valor estético de uma obra, intérprete ou conjunto musical. Um texto crítico frequentemente refere-se a um espetáculo ou álbum na época de seu lançamento. O assunto é complexo e polémico, pois, desde os tempos em que a sua prática era levada a cabo por curiosos frequentadores da vida social e, consequentemente, dos espetáculos musicais, nunca se tornou claro qual o seu objetivo principal, nem mesmo quais os destinatários - o público, o artista ou ambos.

Ao longo do século XX, notou-se que, mesmo sem finalidade ou utilidade aparente, a crítica musical passou a despertar forte curiosidade nos que não frequentavam os espetáculos musicais e assim se apropriavam dos pontos de vista emanados nas críticas. Com o estabelecimento do comércio musical, os músicos e produtores musicais, em nome da captura das plateias e dos compradores, passaram a manipular o seu conteúdo com diversos tipos de favorecimento aos críticos. Com a vulgarização desta prática, a isenção da crítica passou a ser questionada. Ainda assim, consegue influenciar o público e uma crítica num veículo respeitado pode, dentro de certos limites, promover o sucesso ou o fracasso dos artistas, álbuns e espetáculos.

A indústria cultural além de lançar tendências através de bandas pagas, agrupadas por redes de comunicação, também faz uso da crítica para vender a sua mercadoria com artigos pagos, manipulação dos meios de comunição e a massificação de determinados estilos musicais.

Educação musical
Educação musical é o conjunto de práticas destinadas a transmitir através da vivência musical a teoria e prática da música nas correntes gerações e inclui: musicalização (métodos destinados a iniciação ao estudante na prática vocal ou instrumental . Há muitos métodos de musicalização e os mais conhecidos são o Método Orff, Ritmica de Dalcroze e Kodály); prática instrumental (ensino e treino de técnicas específicas de cada instrumento, em grupo e/ou individual , voltados para a audição, prática, treino auditivo, perceção, etc); prática vocal (ensino e treino de técnicas vocais. Inclui o canto coral e o canto orfeónico); teoria musical (ensino da teoria musical, escalas, rítmica, harmonia e notação musical); história da música; perceção auditiva (treino da perceção melódica, alturas e intervalos, harmónica e rítmica); composição e regência (curso voltado para pessoas que gostariam de ser compositores ou regentes, também um curso superior destinado à formação de regentes).

Atuação/Performance
A música só existe quando executada ou reproduzida, por isso a atuação é seu aspeto mais importante. Enquanto não executada a música é apenas potencial. É na execução que ela se torna existente. A atuação estende-se desde a improvisação de solos às bem organizadas e elaboradas apresentações repletas de rituais, como o moderno concerto clássico, o concerto de rock ou festividades religiosas. O executante é o músico, que pode ser um instrumentista ou cantor.

Solos e conjuntos
A execução pode ser feita individualmente e neste caso é chamada de solo, palavra que vem do italiano e significa "sozinho". O extremo oposto é a execução em conjuntos vocais, instrumentais ou mistos.

Muitas culturas mantêm fortes tradições nas atuações de solos como, por exemplo, na música clássica indiana, enquanto que outras, como em Bali, têm ênfase nas atuações de conjuntos. Mas o mais comum é uma mistura das duas. Os conjuntos podem ter solistas permanentes (como o vocalista ou o guitarrista principal de uma banda de rock) ou ocasionais (como o solista de um concerto erudito).

A variedade de conjuntos existentes é imensa e as combinações possíveis são ilimitadas. É comum classificar os grupos pelo número de participantes: duos, trios, quartetos, quintetos, sexteto, heptetos e octetos são os mais comuns. Grupos com mais de oito executantes são classificados pela sua função: coros, grupo de câmara, bandas, orquestras. Certos grupos têm um nome específico, como o gamelão, conjunto instrumental típico da música de Bali. Outros podem partilhar o nome com outros conjuntos e neste caso são identificados geralmente pelo género: orquestra sinfónica, orquestra de baile, banda de blues, banda de jazz.

O evento musical
A execução musical pode ocorrer num contexto íntimo ou mesmo solitário, mas é comum que ocorra dentro de um evento ou espetáculo. Entre os eventos mais comuns estão as festas, concertos, shows, óperas, espetáculos de dança, entre outros. Cada evento tem características próprias e normalmente obedece a um ritual específico. Eventos mais teatrais como o concerto e a ópera exigem do público uma atitude contemplativa e silenciosa enquanto que um concerto de rock ou uma roda de samba presumem a participação ativa do público na forma do canto e dança.

Festivais de música
Além dos próprios espetáculos e eventos feitos por algumas bandas e grupos isolados, existem também os festivais de música, onde são apresentados diversos grupos e artistas, na maioria das vezes com o mesmo género, mas muitas vezes com géneros diversos; podem ocorrer uma única vez ou periodicamente. Um dos festivais mais conhecidos foi o de Woodstock, tradicional festival de rock nos Estados Unidos. Alguns festivais como o Live 8 têm abrangência global, outros são limitados à região em que ocorrem, como os brasileiros Chivas Jazz Festival, São Paulo Mix Festival, Abril Pro Rock e Festival Pré Amp e o português Super Bock Super Rock. Em alguns casos, um evento planeado para ter abrangência local ganha importância e é extrapolado para outras localidades, como o famoso Rock in Rio que após três edições no Rio de Janeiro passou a ter edições no exterior, como a de 2004 em Lisboa e as que aconteceram em 2006 e 2007 em Lisboa e Sydney.

Existem muitos festivais de música que celebram géneros particulares de música. Um dos melhores exemplos é o Festival de Bayreuth que se dedica exclusivamente às operas de Richard Wagner. Também podem ser considerados festivais eventos que englobam outras manifestações, como o Carnaval do Brasil ou o Mardi-Gras em Nova Orleães.